terça-feira, 14 de maio de 2013

TP 07 4 O homem espiritual

O homem espiritual conduzido pelo Espírito, afresco pré-românico, séc. IX, San Quirce de Pedret, Espanha.
A finalidade da vida cristã, dizia São Serafim de Sarov, é a aquisição do Espírito Santo.

A graça sacramental, assimilada pouco a pouco através da ascese e da oração, provoca a espiritualização do coração, este centro de integração e abertura de todo nosso ser, e a partir deste «coração consciente», inflamado pelo fogo do Espírito, a espiritualização de todas as nossas faculdades, nossos sentidos, nosso corpo, e depois, de nosso ambiente histórico e cósmico.

A vida espiritual é a vida no Espírito Santo. A fórmula patrística «Deus se fez homem para que o homem possa tornar-se Deus» se esclarece melhor em uma outra: «Deus se fez sarcóforo, portador da nossa carne, para que o homem possa se tornar pneumatóforo, portador do Espírito» (Atanásio, De incarn., 8). O Espírito desperta, no homem, uma sensibilidade fundamental, que não é somente na ordem do sensível, nem do inteligível, mas do ser no insondável abismo do coração, o que os ascetas chamam a sensibilidade do Espírito. É a capacidade de «sentir» Deus em tudo e para além de tudo. O Espírito atualiza, em nós, a graça batismal, nos faz passar por sucessivas mortes e ressurreições, nas quais nos revestimos do Cristo humilhado e depois do Cristo glorificado. Também a memória dos mortos se torna a memória de Deus, do Deus que se incarna e desce até a morte e nos infernos, a nossa morte e nosso inferno, para fazer brotar a força vivificante do Espírito, a potência de sua ressurreição.

Muitos grandes santos da Igreja Ortodoxa conhecem um batismo do Espírito, uma tomada de consciência pessoal da graça batismal, porque o batismo de água é também batismo do Espírito, dimensão pneumatológica reforçada, clarificada, personificada da unção crismal. Este batismo do Espírito, recebido depois de grandes provas e grandes angústias nas quais o homem encontrou a verdadeira humildade, este batismo do Espírito se identifica, longe de todo triunfalismo carismático, ao dom das lágrimas. Trata-se sempre de água: a água sobre a qual sopra o Espírito, a água do «in principio», a água do batismo, e agora, a água das lágrimas, nas quais se dissolve a dureza do coração, a sclerocardia, quando o coração de pedra se transforma em coração de carne.

O Espírito recria o homem a partir das lágrimas, lágrimas de angústia e de amargor, e depois, lágrimas de gratidão e de maravilhamento, lágrimas de penitência tornadas lágrimas de alegria, que dão ao homem, ao mesmo tempo, força e vulnerabilidade, doçura e ternura, uma infinita capacidade de acolhimento. Então se abre, nele, um respiro do imenso, um sopro unido ao nome de Jesus, participa do Sopro divino que não cessa de anunciar o Verbo. Respira no Espírito, respira o Espírito, que leva ao mundo.

O homem, tornado espiritual, encontra a sua verdadeira natureza, que é dinamismo de assimilação à Graça; as suas virtudes, para além de todo moralismo, são outras tantas participações das energias divinas; e ele desperta e liberta a muda celebração das coisas; os ritmos mesmos do seu corpo, aquele da respiração, aquele do sangue, tornam-se oração, porque é preciso celebrar Deus com a dança, dizem os salmos. Então se manifestam os frutos do Espírito, a percepção da chama das coisas e do ícone de cada rosto, do universo como liturgia, da história como encontro do sacro e do profano. O homem espiritual recebe os carismas da caridade, compreende, assume sobre si a unidade ontológica de todos os homens e recebe o dom da compaixão, da simpatia, no seu sentido forte de «sentir com o outro».

O. Clément, Je crois en l’Esprit saint, 33-35.

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