quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

16 Somente o pobre sabe amar

Lava-pés - Evangelho 1391 n. 8772 - Armenia - f. 11r
Todo autêntico impulso de amor nos torna pobres. Ele empenha todo o homem, coloca em jogo todas suas forças e todos os seus laços (cf. Mt 22, 37), e tem, como consequência, uma diminuição da segurança e proteção objetiva, situada fora do homem. Por isso, pode verdadeiramente amar somente o homem que é capaz de dar-se «gratuitamente», sem proteção e sem dúvidas, para conservar, depois, esta doação na solitária e dolorosa fidelidade de toda uma vida.

Todo autêntico encontro humano acontece no espírito de pobreza. Porque nós devemos fazer-nos «pequenos», saber esquecer-nos e ficarmos de lado, para que o outro venha a nós na sua unicidade. Devemos saber deixá-lo ser, deixá-lo livre no seu ser próprio que, frequentemente nos arranca de nós mesmos, e nos chama a uma dolorosa conversão. Somente assim prepararemos a ele, e a nós, um autêntico «advento».

Frequentemente nós oprimimos o outro; deixamos chegar até nós somente aquilo que passa pelo filtro da nossa própria existência individual, a qual estamos acostumados: em poucas palavras, somente aquilo que já está em nós. Mas, deste modo, em nós, não chega propriamente o outro, o mistério beatificante e salvador do seu ser único; somos, ao contrário, nós que recaímos sobre nós mesmos, e pagamos o preço de uma solidão dolorosamente corrosiva, poruqe não ousamos a pobreza do encontro e fizemos desta ocasião unicamente uma nova e desesperada tentaiva de autoafirmação e autoidolatria. Aquilo que resta é uma sombra de nõs mesmos, o espectro infernal daquela natureza que deveria encontrar a plenitude e esplendor do próprio ser na humilde abertura ao outro, na audácia do «perder-se» pelo seu amor.

J. B. Metz, Povertà nello spirito, 58-60.

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